quarta-feira, 22 de julho de 2009

Não é guerra civil: É massacre!...

Que País é esse?... A frase se renova, os problemas envelhecem e as soluções não surgem. Portugal nos condenou ao naufrágio já na elaboração do projeto, Mandando para cá boa parte da escória do seu povo (Condenados por crimes. Alguns preferiam a morte a ter que enfrentar a terra dos papagaios). O sangue ruim do lixo Humano que pisou as terras tupiniquins se misturou ao dos índios inocentes que reinavam e desfrutavam da tão sonhada paz dos dias de hoje.
O fantasma do descobrimento continua sua saga. Ladrões se espalham pelas ruas, pelas casas, pelas instituições e tudo acaba banalizado e, os usurpadores venerados ou inocentados. A nós, não cabe sequer o direito à defesa.
Deixem de covardia e dê-nos o direito de defender o que é nosso, mesmo que seja com a própria vida. Que seja revogada a lei do desarmamento que já provou que só serve para acuar a sociedade.
E quanto ao povo brasileiro, o meu protesto, bondade e mansidão não podem se esconder no manto da covardia. Só uma revolução colocará essa “geringonça desgovernada”, novamente, no rumo.
Comecei com Legião urbana, termino com Capital inicial: “Até quando esperar...”.

sábado, 18 de julho de 2009

Inocência Perdida


Enquanto a família Sarney se lambusa no bolo da nação, crianças maranhenses se humilham nas estradas federais do estado, tapando buracos e mendigando trocados dos motoristas. Cenas que correm o Brasil nas lentes estarrecidas dos homens de bem desse País.

Cabeça de Vento

A proliferação de igrejas "evangélicas" como a "Renascer em Cristo" que, na verdade, seria mais adequado Classificá-las de mercearias de milagres fajutos, faz surgir figuras bestiais como Caroline Celico, mulher do jogador Kaká, da seleção brasileira e do Real Madrid, que declarou durante um culto na Flórida que foi Deus quem fez com que o Real Madrid tivesse dinheiro para contratar seu marido. "Como pode alguém no meio da crise ter dinheiro? Deus colocou esse dinheiro na mão do Real Madrid para contratar o Kaká. Nós vamos poder abrir uma igreja lá. Existem vidas que têm que ouvir essa palavra", disse.
Santa ignorância... Dona Celico poderia fazer valer o diploma de culinária da sofisticada Cordon Bleu e pleitear uma vaga na cozinha do Real Madri. Quem sabe, assim, ela consiga fazer milagres com pratos franceses pro marido comer rezando.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Antiga Delegacia de Paragominas (TV Liberal)

Palco de muitas fugas, a antiga delegacia de Paragominas, já desativada, era a imagem do caos. o que não é exclusividade do município paraense. Diga-se de passagem, o prédio mudou mas, os problemas...

Zé Reinaldo X Zé Sarney

O então Governador do Maranhão José Reinaldo Tavares, descascando o verbo contra Sarney e integrantes do grupo do senador que, segundo ele, são os responsáveis pelos mais de quarenta anos de atraso no estado.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Nas alturas

Momentos do Comandante Emerson Lopes em voos relizados de Votuporanga para Penápolis, em São Paulo e de Goiânia Para Anápolis, em Goiás. Belas imagens do Centro-Oeste do Brasil.

sábado, 11 de julho de 2009

A Casa dos Horrores




O
mais novo lançamento da indústria cinematográfica brasileira já está em cartaz.
“A Casa dos Horrores” é uma produção independente da produtora Senado Federal Brasileiro e, já está em cartaz.
No papel principal o premiado José Sarney: um “expert” na arte de representar. Depois de quase cinqüenta anos fazendo o papel de bom moço, coitadinho defensor dos oprimidos, e demente, Sarney vive a nova experiência de viver um vilão. Apesar dos esforços de se esconder atrás do papel de mocinho. Mas, essa personagem já estava comprometida. O atual mocinho quase não aparece no filme e, quando resolve falar com a imprensa está sempre fora do País. Uma das exigências do mocinho para assumir o papel foi não morar no mesmo prédio que os demais atores e sempre ser chamado pelo apelido.
O filme já chegou aos cinemas, mas, a briga pelos rendimentos continua. “A casa dos Horrores II”, já está sendo escrita pelos oitenta e um roteiristas da produtora e os fãs dessa quadrilogia (leia-se quadrilhogia), podem esperar uma trama cheia de muita armação, maracutaia, roubalheira e cara de pau.




Emerson Lopes

Companhia de Polícia da Aeronáutica


O Militar


Fiz parte desse pelotão de elite da Aeronáutica, por mais de dois anos. É claro que usávamos armas bem mais sofisticadas e potentes que essas da foto.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A Pintada


Em uma de minhas andanças pela Amazônia, me deparei com esta cena, na porta de um barraco, à beira da estrada. Uma prova de coragem?... Covardia?... Ou sobrevivência?...
O que fazer, no meio da floresta, ao dar de cara com um bicho igual a esse?
Matar para não morrer?... Ou tentar fugir, para garantir a preservação da espécie?
Você decide!...

Obs.: O Autor dessa façanha garantiu que o "gatinho" já teria "jantado", pelo menos, 20 cabeças de gado na região.

A pintada II




A pintada III


quinta-feira, 9 de julho de 2009

índios Caiapó em Redenção




Equipe Inesquecível


Johan e Rogel. Bons amigos que me acompanharam em grandes reportagens por mais de dois anos.


Acidente de Avião em São Miguel do Araguaia


No meio da tempestade, o piloto perde o controle do monomotor e cai no pasto de uma fazenda no tocantins. As cinco pessoas à bordo, entre elas uma criança, têm morte instantânea.
No local do acidente, um silêncio assustador e um cheiro de sangue insuportável. Marcas que não se apagam... Experiência que não se transfere.
Emerson Lopes

Acidente Grave no Tocantins (2000)


Choque entre ônibus e caminhão Numa manhã chuvosa proximo à divisa com o Goiás. O motorista do caminhão morreu no local.

Morte no Guamá (TV Liberal)

A rotina da violência retratada de forma isenta e responsável.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Estradas da Morte

Lá se vão mais de vinte anos de atuação como repórter das principais emissoras do Norte, Nordeste, e Centro-oeste do Brasil. A reportagem ao lado é de 2005. Um retrato do abandono das estradas brasileiras que, a cada dia, mata dezenas de inoscentes. Num País individualista e capitalista, salve-se quem puder.

Emerson Lopes

CARTA A IMPRENSA DO BRASIL

CARTA A IMPRENSA DO BRASIL (EM RESPOSTA A CAPA DE VEJA DE 24/06/2009 “BASTA DE IMPUNIDADE”)Primeiro quero manifestar meu apoio incondicional a reportagem de capa da Revista Veja de 24/06/2009 pelas informações prestadas e pelo debate de opiniões que causou em nossa sociedade! http://veja.abril.com.br/240609/p_058.shtmlÉ gratificante saber que as pessoas não estão assim tão desinteressadas do bem comum e da política!Em minha opinião jornalismo deve ser isto: Responsabilidade Social e Utilidade Pública!E por assim pensar escrevo as linhas abaixo:Depois de vinte anos (comecei aos trezes anos quando era membro de grêmio escolar e comunista) acompanhando noticiários de televisão e lendo revistas de grande circulação nacional, conclui que o maior poder do País é a Mídia (Imprensa). A Mídia mobiliza, promove Impeachment ( impugnação de mandato) e se quizer faz acontecer até eleição!O segundo maior poder do País, na minha opinião é a mobilização( o povo organizado em prol de um objetivo comum).Mas, como Mobilizar sem Informação? Como Mobilizar sem formar Opinião? E como formar opiniões somente em prol de interesses comuns ? Como formar opinião em prol da Nação, do Povo Brasileiro( por mim entendidos como brasileiros, de norte a sul, de leste a oste, de toda classe social, toda opção sexual, de toda crença e opinião).Para que a Imprensa cumpra todo seu papel social acredito que ela deva está envolvida em todo clamor social, em toda luta do Povo! Por está razão PEÇO A IMPRENSA BRASILEIRA QUE APOE E PUBLIQUE MATÉRIAS DE CAPA PARA MOBILIZAR E AJUDAR A CAMPANHAS ABAIXO:- CAMPANHA FICHA LIMPA( MOVIMENTO DE COMBATE A CORRUPÇÃO ELEITORAL- http://www.lei9840.org.br/- CAMPANHA TODOS CONTRA A PEDOFILIA - http://www.todoscontraapedofilia.com.br/site- CAMPANHA TODOS CONTRA O TRABALHO ESCRAVO E TRABALHO INFANTIL - www.cptpe.org.br- CAMPANHA EDUCACIONISTA - http://www.educacionista.org.br/-CAMPANHA REFORMA POLITICA- http://www.reformapolitica.org.br/E PEÇO MAIS: PROMOVAM UMA CAMPANHA DE INFORMAÇÃO MASSIVA SOBRE AS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS NO BRASIL. QUE ELAS SEJAM REALIZADAS EM LOCAIS PÚBLICOS (EM BRASÍLIA SUGIRO A ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS) , AOS SÁBADOS E COM ATRAÇÕES DE ARTISTAS LOCAIS! SERIA UM SONHO? “ Sonho que se sonha só. É só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade” Raul Seixas.PROMOVAM UMA CAMPANHA DE INFORMAÇÃO MASSIVA SOBRE O TRABALHO DOS POLITICOS BRASILEIROS( VOCÊS SÓ DIVULGAM MAZELAS, DENÚNCIAS). PORQUE NÃO INFORMAR O POVO DO TRABALHO LEGISLATIVO DE CADA UM? ISTO FORTALECERIA NOSSA DEMOCRACIA E NOSSAS INSTITUIÇÕES QUE FORAM OS PILARES DE TODO PROGRESSO BRASILEIRO NAS ULTIMAS DÉCADAS.AJUDEM O PRÓXIMO PRESIDENTE A GOVERNAR SEM MENSALEIROS: DIVULGUEM AO VIVO E VOTO A VOTO(COMO FIZERAM NO IMPEACHMENT DE COLLOR DO QUAL PARTICIPEI COMO CARA PINTADA) TODAS AS VOTAÇÕES DE GRANDE REVELÂNCIA PARA O PAÍS, ESPECIALMENTE AS QUE DIZEM RESPEITO A ECONOMIA, REFORMA POLITICA, MOVIMENTO DE COMBATE A CORRUPÇÃO ELEITORAL- http://www.lei9840.org.br/, EDUCAÇÃO, SAÚDE( O SUS FALIU), PROJETOS SOCIAIS E OUTROS.E POR ULTIMO PUBLIQUEM A MATÉRIA QUE SOLICITEI A TRÊS SEMANAS ATRÁS A VÁRIOS VEICULOS DE COMUNICAÇÃO EM BRASÍLIA E TAMBÉM A VEJA, ISTO É, ÉPOCA, REDE GLOBO, REDE RECORD E SBT. CRISE E MORTE NA SAÚDE DO DF – SUPERLOTAÇÃO NOS HOSPITAIS, MÉDICOS DEIXANDO O SERVIÇO PÚBLICO, FILAS IMENSAS NOS PRONTOS SOCORROS E NAS MARCAÇÕES DE CONSULTAS E EXAMES, MORTE POR FALTA DE LEITO DE UTI, TERCEIRIZAÇÃO DE HOSPITAL PROVOCANDO PROTESTOS E BRIGAS JUDICIAIS E IMPEDINDO O ATENDIMENTO A POPULAÇÃO. O POVO BRASILIENSE QUE NÃO ESTÁ FREQUENTANDO HOSPITAIS COMO ESTOU PRECISA SABER DISTO! É DEVER DE IMPRENSA RESPONSÁVEL DIVULGAR ESTES FATOS.

Lu Barros

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A queda de um Guerreiro


Os primeiros raios de sol rasgam a vidraça desprotegida do pequeno quarto, no primeiro andar do hotel. É manhã de Segunda-feira e, a contar pelo céu de brigadeiro refletido na janela, o dia vai ser promissor. Eu nunca tive problemas com a segunda-feira... Meu sofrimento, na verdade, sempre foi o Domingo. Um dia morto, com um monte de gente alienada fazendo tudo àquilo que a televisão recomenda – Churrasco e pagode, sol e mar, passeio com o cachorro no calçadão, etc. Como se tivéssemos a obrigação de moldar a nossa felicidade pelas fantasias de poucos autores entediados e insatisfeitos com o próprio parâmetro de realização.
Adoro essa sensação de silêncio que vem lá de fora. Apesar de que, aqui dentro, o ar condicionado trabalha em ritmo acelerado. Mas, isso não me incomoda... Posso ficar horas e horas num diálogo profundo comigo mesmo. Será que numa novela isso seria considerado normal? Meus devaneios são bruscamente interrompidos pelo toque desesperado do telefone. A principio ignorei o chamado, mas, uma ligação a essa hora... Não deve ser boa notícia; É melhor atender. Do outro lado, um jornalista da Folha de São Paulo, mencionava alguma coisa sobre Paulinho Paiakan - o come a força, ta lembrado?... Na verdade, ele queria o apoio da minha equipe para chegar até a aldeia do cacique Kayapó, no meio da floresta a, pelo menos, uma hora de vôo de Redenção, sul do Pará. Naquele momento, enquanto ele dava detalhes da missão, eu fazia um rápido levantamento dos meus compromissos, para as próximas oito horas. Como a ronda do final de semana havia me garantido uma série de boas reportagens, nada me impedia de cancelar alguns encontros menos importantes como uma conversa de rotina com o delegado de polícia, gravar o programa de hoje e partir ao encontro do “Tarzan”... Digo: Paiakan
E, foi isso que eu fiz... Meia hora depois, eu e minha equipe já estávamos no aeroporto de cara pintada e “borduna” na mão... Digo: de cara limpa e câmera na mão. O primeiro desafio veio na hora de alugar o avião para a viagem. Os dois índios que nos guiariam até a aldeia tinham ordens expressas de Paulinho Paiakan, para, só permitir a viagem se fosse no avião da tribo. Determinação que se justificaria logo em seguida: o valor do frete era o dobro do cobravam as outras empresas de táxi aéreo. Por livre e espontânea pressão tivemos que abrir mão de um bimotor asa baixa, trem de pouso retrátil, ar-condicionado, banco de couro, sistema de posicionamento global (GPS), etc. E, felizes aceitar a carroça voadora dos Kaiapó: Um Cesna monomotor asa alta, trem de pouso fixo e, muito barulho. Os primeiros cinqüenta minutos da viagem eu passei olhando para o tapete verde formado pela copa das árvores gigantes da Amazônia, imaginando o que fazer, no caso de uma emergência. Mesmo sendo piloto de avião, não encontrei saída a não ser fechar os olhos e, apesar do barulho contínuo e ensurdecedor do “teco-teco”, fiquei imaginando como seria a nossa entrevista com Paiakan, um homem inteligente que conhece, muito bem, as malícias dos brancos e que se mostrava arredio ao assunto Sílvia Letícia da Luz Ferreira. A então estudante de apenas dezoito anos de idade, estuprada pelo cacique com a ajuda da mulher dele Irekran, em 1992, num trecho deserto de uma estrada de terra nas proximidades de Redenção depois de uma festinha regada a muita bebida e “cigarrinhos do capeta”, numa chácara pertencente ao indígena. O julgamento estava para acontecer, mas, Paulinho Paiakan, para se livrar da condenação, praticamente certa, considerando que ele assumira o crime em rede nacional, se isolou no meio da selva, numa aldeia batizada por ele de “rio vermelho”. Uma pequena oca cravada no meio de uma cratera, cercada por mata virgem. A localização, só o piloto da tribo sabia. Daí a exigência de não permitir o aluguel de um outro avião.
Depois de mais de uma hora de solavancos e sustos, surge de repente no meio da selva uma pequena pista de pouso. Ficamos felizes por chegarmos e, ao mesmo tempo, apavorados com a idéia de fazer um pouso naquela... Naquela pista. Graças a Deus, Paulo, o piloto é um profissional experiente. As boas vindas acontecem, ainda, na porta do avião. O renomado Cacique, nem de perto parecia aquele índio influente que chamava a atenção nos corredores do congresso ou em seminários realizados pelo mundo. Paiakan vestia uma bermuda cinza e uma camiseta branca e, se sentia muito à vontade com isso. Convidou-nos para sua oca sempre deixando transparecer que estava feliz com a nossa visita. Ao chegar à oca, Paulinho, o homem comum, se embrenhou quarto adentro e, quase meia hora depois, reaparece transformado. Apesar das minhas diversas viagens a aldeias da Amazônia, eu nunca tinha me sentido tão fora da realidade. Ali, à minha frente estava um guerreiro kaiapó vestido a caráter como se fosse entrar em cena a qualquer momento num filme de “Bang-Bang”. Por alguns segundos me vi criança, frente à televisão.
Sabendo das intenções do repórter da “folha”, me adiantei:
-Cacique... Podemos gravar nossa entrevista agora?- Paulinho balançou a cabeça afirmativamente e, eu senti o coração ficar igual americano sambando: todo fora do compasso. Mas, tudo bem... Pra início de conversa, vamos amansar o canibal, digo... A fera.
Então comecei: Feliz, Paulinho, na sua nova aldeia?... Pretende continuar mantendo contato com os brancos?...(ta chegando) Silvia Letícia é a responsável pelo seu isolamento? (chegou)... O “pele vermelha” ficou roxo de raiva, mas se controlou e respondeu a essa e mais duas perguntas sobre o tal assunto. Quando a outra equipe apontou o gravador já era tarde. Um sonoro não foi ouvido, acompanhado de uma tremenda cara feia. Paiakan estava em brasa.
É difícil saber a reação de um índio. Ainda mais se esse índio for um homem instruído, bem relacionado e conhecedor da cultura “Caraíba”. Depois daquele acesso de raiva pensávamos que havíamos feito um caminho sem volta. Enquanto o companheiro da “folha” tentava se desculpar pela indiscrição eu observava de longe e planejava uma forma de esconder a fita da tal entrevista. Mas, sabia que essa, também, era uma iniciativa perigosa. Afinal, nos dias de hoje, quase todo índio sabe manusear uma câmera de vídeo. Descobri isso, em uma aldeia que fica no município de Santa Inês, no estado do Maranhão, onde fui cobrir a morte de um fazendeiro que se recusou a pagar o pedágio cobrado pela tribo. O estilo de vida era primitivo. Mulheres desnudas, rituais e quase nada do nosso idioma. Mas, nada que impedisse o cacique de dar uma olhadinha na lateral da câmera para se certificar de que a fita não estava rodando... Mas, com Paulinho Paiakan, isso não foi necessário.
Meia hora depois, parecia que nada havia acontecido. Com a paciência de um monge, ele levantou-se do tronco em que ficou sentado a maior parte do tempo e, gentilmente nos convidou para o almoço.
Esse é outro fato interessante. Da hora em que chegamos à aldeia, até aquele momento eu não havia prestado muita a atenção nas seis índias que, em silêncio, andavam de um lado para o outro. Elas preparavam o nosso almoço, a mando do cacique. No cardápio, peixe moqueado (enrolado na folha de bananeira, com vísceras e sem sal), arroz e macarrão. O tal macarrão eu jamais esqueci. É que, quando chegou a minha vez percebi um algo mais no macarrão... Uma barata tamanho família que passeava tranqüilamente entre o macarrão e o arroz sem sal e colorido artificialmente com o pó do urucum (o mesmo fruto que é usado para as pinturas tribais). Mas, de acordo com a tradição indígena, seria uma desfeita imperdoável não compartilhar do banquete. Sendo assim, tudo bem!...

Contornada a situação, chega à hora de nossa equipe levantar vôo. Enquanto nos despedíamos, a caminho do avião, com mais um destaque e mil desculpas pelo assunto indigesto (Sílvia Letícia e não a barata), o comandante Paulo, homem de confiança de Paulinho levantou uma questão preocupante. Para conseguir altitude o suficiente para transpor a copa das árvores ele teria que decolar com apenas dois passageiros que ficariam em uma outra aldeia (A-ukrê) de onde seria possível decolar com toda a equipe (05 pessoas). Mas, como seria inviável fazer três viagens, uma a mais só por causa de um passageiro, resolvemos que três de nós fariam a primeira escala. E, naturalmente eu fui um dos escolhidos. Os preparativos da decolagem me lembraram os vôos clandestinos tão freqüentes no ciclo do ouro. A pista pequena requer mais potência, o motor é posto em rotação máxima antes de qualquer movimento só então os freios são liberados. Os “flaps”, dispositivos que aumentam a sustentação ficam recolhidos até que a aeronave ganhe velocidade, isso bloqueia uma segunda função desse dispositivo que, também, serve como freio aerodinâmico. A técnica adotada produz mais velocidade em menos espaço de tempo. Uma sensação estranha parece que a pista vai acabar a qualquer momento e que vamos dar de cara com a selva que forma uma barreira imponente a poucos metros do final da pista. Conseguimos levantar vôo, mas o perigo ainda é real. Para qualquer lado que se olha, só se vê mata fechada e, a uma altura considerável. O piloto curva a aeronave para tentar ganhar velocidade e altura. São segundos de muita apreensão. Paulo, o piloto, tenta ignorar o perigo, mas, o suor que escorre testa abaixo o denuncia. Depois de dois alarmes de estolagem (Perda de sustentação), conseguimos vencer o obstáculo. Mas, vamos precisar de um pouco mais de tempo para retomar o ritmo ideal de batimentos cardíacos.


Pena que não tenhamos esse tempo. Menos de dois minutos depois, já começamos a avistar a aldeia “a-ukrê”, nosso ponto de apoio. Lá embaixo, novamente uma pista de terra avermelhada que, aos poucos vai ficando ainda mais escura. São dezenas de índios que correm para a pista na curiosidade de saber “quem vem lá?...” Paulo sugere que guardemos nossos equipamentos e se, por acaso, alguém perguntar, digam apenas “somos amigos do Paulinho...” O cacique, até então, era muito respeitado.
Até que a aglomeração não é de se estranhar. Essa é, na verdade, uma atitude característica dos indígenas: a curiosidade. Os cem metros que nos separavam da aldeia, foram percorridos debaixo de muitas perguntas, algumas ingênuas... Outras, nem tanto. As lideranças desconfiavam das nossas intenções. Foi preciso muita cautela para não ceder à curiosidade. Para nossa sorte, enquanto comandante Paulo retornava para buscar os outros dois companheiros que, acredito não ficaram em melhores condições, conheci um pesquisador francês, de quem eu não recordo o nome. Ele já estava há mais de três meses convivendo com os kaiapó, numa pesquisa que servia como uma espécie de tese. Era engraçado o contraste daquele “pele branca”, se passando por índio. Mas, em dado momento ele se mostrou bem a par dos costumes da tribo. Uma índia velha falando alto foi se aproximando... Isso sim, me deixou assustado. Primeiro por não entender uma palavra sequer. Segundo por ter a convicção de que ela não estava nada satisfeita com a nossa presença. Para piorar a situação, o francês nos disse que essa mesma velhinha desdentada e corcunda já havia feito um ministro cheirar a sua “borduna”. Eu que já fui expulso a cacetadas por índios “krikati” e “urubu”, de dentro de uma igreja no Maranhão, não estava disposto a apanhar novamente, e, desta vez de uma mulher. (não que eu seja tão machista... Mas, apanhar é ruim de qualquer jeito). Segundo o meu novo amigo, ela estava querendo saber o motivo da nossa presença. Se éramos amigos de Paulinho, porque ele não havia comentado que nós viríamos. Mais uma vez, fomos salvos pelo gongo... A fúria da “mãe da mata” foi contida por um rasante do comandante Paulo bem no meio da aldeia... A cena se repetiu... Até a índia velha se arrastou a caminho da pista pra ver quem estava chegando. Com a mão ainda trêmula, agradeci ao meu novo amigo e me apressei em sair da linha de fogo. Nunca, uma despedida foi tão curta.
Na viagem de volta, Lá estou eu, novamente, de olhar fixo na copa das árvores, em silêncio. Desta vez, eu não estava sozinho. Mesmo que alguém dissesse alguma coisa, seria difícil obter uma resposta. Na verdade, os pensamentos estavam muito longe. Eu imaginava o que poderia ter acontecido caso o Cacique Paiakan não tivesse aceitado a minha ousadia, ou se tivéssemos errado nos cálculos na decolagem com três ao invés de dois, ou se a bisavó do “curupira” tivesse optado pela agressão física... Os reflexos foram tão reais que aquela imagem fixa da selva amazônica, imponente e ameaçadora, em nenhum momento da viagem chegou a me incomodar.
Exatos cinco dias depois, ao chegar à delegacia de polícia de Redenção um agente veio me receber na porta, com aquela euforia natural de quem fez um bom trabalho.
– sabe da maior?... Sílvia Letícia está presa!... Ela foi flagrada no momento em que passava uma garrafa dágua com fundo falso ao marido, acusado de homicídio. No fundo falso, a polícia encontrou um “kit-fuga”. Sílvia Letícia... A professorinha injustiçada e humilhada por um casal indígena, estava conhecendo o outro lado da moeda. No foco das câmeras, agora, nada de compaixão.

domingo, 28 de junho de 2009

E-mail ao criador


E-mail ao criador

Prezado chefe,

sei que não há justificativa para meus quase quarenta anos de atraso. Mas, enfim... Consegui vencer as intempéries, até aqui, a mim apresentadas. O certo é que minha sobrevivência não tem sido nada fácil nesse ambiente hostil. Na minha chegada fui mantido em cárcere privado numa bolha dágua por sete meses!... Isso porque eu forcei a barra. Na minha saída fui espancado por um ser de vestes brancas. Por ele eu ficaria ali por, pelo menos, mais dois meses. Mas, deixemos de lado meus problemas e vamos ao que interessa.
Chefe, as notícias não são boas... O “Projeto Terra”, na minha avaliação, está entre os piores criados na imensidão do universo.
Um tal ser, aqui chamado de “ser humano”, se destacou ao longo da evolução e desde que assumiu o comando sobre as demais espécies só tem feito M... Desculpe o linguajar. Deve ser a convivência.
Sei que seu filho deve estar à sua direita intrigado com minhas palavras. Afinal, ele passou por aqui Há pouco mais de dois mil anos com a missão de botar ordem na casa: De pouco adiantou. Foi só ele sair de cena para o caos se instalar.
Pedro (aquele que negou conhecê-lo) fundou um verdadeiro império imobiliário que só cresce a cada ano. Com sede em Roma e com nome fantasia de “Igreja Católica”. Eles vendem viagem ao paraíso. O pagamento é feito em vida, mas, prepare-se!... Pelo que tenho ouvido por aqui, após a morte eles vão permanecer por toda a eternidade nos jardins da sua casa.
O negócio deu tão certo que um dos sócios, senhor Martinho Lutero, contestou noventa e cinco teses da referida instituição para rebelar-se e fundar sua própria empresa. Não é preciso dizer que a coisa saiu de controle. Hoje são centenas de Imobiliárias do Paraíso, com diversas técnicas de marketing, espalhadas pelo planeta.
Mas, mudando de assunto... Seu filho nasceu em Belém da Judéia, eu sei... Mas, que o senhor nasceu no Brasil, eu fiquei sabendo pela televisão. Assim que tomei conhecimento do fato, decidi concentrar minhas pesquisas nesse lugar sagrado.
Devo salientar que estou enviando esse e-mail de uma “lan house”... Meu “laptop” foi roubado ainda no aeroporto do Rio de Janeiro.
Tráfico de drogas, assaltos, assassinatos, corrupção, enchentes, devastação das florestas e um turbilhão de mentiras... Eu passaria um dia inteiro relatando os enganos da “terra dos papagaios”, mas, prefiro fechar meus argumentos com uma pergunta: Se sua casa é o paraíso, como pode o senhor ter nascido no inferno?

Volto logo...

sábado, 27 de junho de 2009




De boa intenção o inferno está cheio...

E ainda tem quem acredite que vivemos em democracia?... Que liberdade é essa que só oprime os homens de bom coração?... Acompanhe o raciocínio: O sinal fechou num cruzamento movimentado da grande São Paulo, o congestionamento já passa dos dez quilômetros. Lá na primeira fila, dois assaltantes armados apontam contra a janela de um veículo, exigindo que a senhora de meia idade - antes concentrada no que fazer para o jantar do marido e seus quatro filhos - agora com ar de espanto, Abra a porta do carro. Nas demais fileiras, outros motoristas observam, incrédulos. De volta ao mundo real eles sabem que, para salvar aquela mulher das garras desses animais, é preciso fazer uso da “lei da selva”, onde o mais forte sempre vence. Destemidos, vários homens de bom coração e tementes a Deus, sacam suas armas, investidos da mesma coragem que teve o jovem Davi, disparam contra os “Golias Contemporâneos”. O sangue podre daqueles vermes em forma humana desce lentamente pelo esgoto, para alívio de todos. Nossa! Que mundo cão!... Nada diferente do que estamos acostumados a ver nos noticiários. País livre que não nos dá o direito de legítima defesa, sob o argumento de que as estatísticas comprovam que, o cidadão armado corre mais risco de morte?... Mentira! A maioria dos assaltos acontece no meio da rua, na presença de multidões impotentes diante do artefato que um único covarde ostenta para a prática de seus crimes. Na favela, traficantes representam uma minoria. Mas, com o poder bélico controlam a maioria. Quem disse que só os bandidos são corajosos? Quem disse que só eles sabem atirar? Armar a população representa aumento no número de homicídios? Tudo bem: Eu pagaria o preço para diminuir o número de bandidos. Estamos numa guerra, mas, não estamos em igualdade de condições.
Moro numa cidade que, nas décadas de setenta e oitenta, era conhecida no Brasil inteiro como “berço da pistolagem”: Paragominas, Pará. Que saudade daqueles tempos onde assaltante era personagem de filme e Boca de fumo, era apelido para ajudante de pajé. Hoje, querem que nossa cidade seja conhecida como “Paragobela”. Mas, se lá fora, alguém me perguntar, vou continuar ratificando: É “Paragobala!...” Com um pequeno detalhe: As armas estão nas mãos erradas e, a imprensa, amordaçada para não alardear o caos que se instalou por aqui nos últimos anos. Hugo Chaves Nacionalizou a maior emissora de TV da Venezuela... Pouco, diante do que fizeram aqui: Municipalizaram TVs, Rádios e Jornalecos para esconder a sujeira debaixo do tapete.A quem interessa uma população acuada. Aos bandidos? Aos governantes?... O mínimo que se pode fazer pelo bem comum é dar ao povo o direito à legítima defesa. Penso que uma população armada não pode causar mais estragos do que a banda podre da humanidade tem feito contra todos nós. Ao gênio da lâmpada eu faria um único pedido: Dê ao nosso “exercito” igualdade de condições. Isso sim é democracia.

Emerson Lopes / Radialista (DRT-1289MA)
De boa intenção o inferno está cheio...



E ainda tem quem acredite que vivemos em democracia?... Que liberdade é essa que só oprime os homens de bom coração?... Acompanhe o raciocínio: O sinal fechou num cruzamento movimentado da grande São Paulo, o congestionamento já passa dos dez quilômetros. Lá na primeira fila, dois assaltantes armados apontam contra a janela de um veículo, exigindo que a senhora de meia idade - antes concentrada no que fazer para o jantar do marido e seus quatro filhos - agora com ar de espanto, Abra a porta do carro. Nas demais fileiras, outros motoristas observam, incrédulos. De volta ao mundo real eles sabem que, para salvar aquela mulher das garras desses animais, é preciso fazer uso da “lei da selva”, onde o mais forte sempre vence. Destemidos, vários homens de bom coração e tementes a Deus, sacam suas armas, investidos da mesma coragem que teve o jovem Davi, disparam contra os “Golias Contemporâneos”. O sangue podre daqueles vermes em forma humana desce lentamente pelo esgoto, para alívio de todos. Nossa! Que mundo cão!... Nada diferente do que estamos acostumados a ver nos noticiários. País livre que não nos dá o direito de legítima defesa, sob o argumento de que as estatísticas comprovam que, o cidadão armado corre mais risco de morte?... Mentira! A maioria dos assaltos acontece no meio da rua, na presença de multidões impotentes diante do artefato que um único covarde ostenta para a prática de seus crimes. Na favela, traficantes representam uma minoria. Mas, com o poder bélico controlam a maioria. Quem disse que só os bandidos são corajosos? Quem disse que só eles sabem atirar? Armar a população representa aumento no número de homicídios? Tudo bem: Eu pagaria o preço para diminuir o número de bandidos. Estamos numa guerra, mas, não estamos em igualdade de condições.

Moro numa cidade que, nas décadas de setenta e oitenta, era conhecida no Brasil inteiro como “berço da pistolagem”: Paragominas, Pará. Que saudade daqueles tempos onde assaltante era personagem de filme e Boca de fumo, era apelido para ajudante de pajé. Hoje, querem que nossa cidade seja conhecida como “Paragobela”. Mas, se lá fora, alguém me perguntar, vou continuar ratificando: É “Paragobala!...” Com um pequeno detalhe: As armas estão nas mãos erradas e, a imprensa, amordaçada para não alardear o caos que se instalou por aqui nos últimos anos. Hugo Chaves Nacionalizou a maior emissora de TV da Venezuela... Pouco, diante do que fizeram aqui: Municipalizaram TVs, Rádios e Jornalecos para esconder a sujeira debaixo do tapete.A quem interessa uma população acuada. Aos bandidos? Aos governantes?... O mínimo que se pode fazer pelo bem comum é dar ao povo o direito à legítima defesa. Penso que uma população armada não pode causar mais estragos do que a banda podre da humanidade tem feito contra todos nós. Ao gênio da lâmpada eu faria um único pedido: Dê ao nosso “exercito” igualdade de condições. Isso sim é democracia.
Condespar
O inferno verde




As viaturas cortam a principal avenida da cidade de Redenção, na Região Sul do Estado do Pará, com giroflex ligados e, em alta velocidade. Para quem registra a cena da calçada a imagem lembra as investidas contra as favelas do Rio de Janeiro. Policiais exibindo os novos fuzis israelenses, recentemente adquiridos pelo governo, e, mesmo tendo a certeza de que a missão não é por aqui, a maioria esboça pose de galã de cinema. O comboio se desloca rumo a Santana do Araguaia, na divisa com o Estado do Mato Grosso. Uma região fronteiriça, muito conhecida por conflitos pela posse da terra e pelo alto índice de assassinatos por encomenda. Não há tempo para colher detalhes do que está acontecendo Mas, alguma coisa me diz que vale a pena investir. É Inverno de 1995... Para mim, a melhor estação do ano. Estou com 25 anos de idade e sou o responsável pela edição de um programa regional de muita audiência além de atuar como correspondente do programa “Aqui - Agora”, do SBT.
Vivo numa frenética corrida por assuntos polêmicos que, acredito, podem significar meu “passaporte” definitivo para o cenário nacional. Aqui, eu sou o comunicador de maior destaque, conhecido pela coragem e o faro aguçado para matérias polêmicas.
O dia, que parecia calmo, recebe uma dose cavalar de adrenalina com a possibilidade de uma boa reportagem. Redenção ainda sofre com as sombras assustadoras de um passado recente: A “pistolagem”. É comum, para os moradores desta cidade, conhecer os profissionais do gatilho pelo nome, associado à profissão (Chico Pistoleiro,Zé do Gatilho, etc,). Só um milagre pode devolver a paz à região. Mas, milagre é coisa de Deus e, a solução encontrada para o impasse está longe de uma ligação com a santíssima trindade: Um delegado linha dura, apelidado carinhosamente de Robocop é destaque nas páginas policiais como o xerife do Sul do Pará. Essa é a fama do temido Aldo de Castro, ex-integrante da ROTA-Ronda Ostensiva Tobias Aguiar, no Estado de São Paulo.
Um homem que faz questão de fazer constar em seu currículo à prisão do próprio pai e a execução, em campo de batalha de, pelo menos, quarenta bandidos. Esse foi o remédio que pôs um freio na ação dos assassinos de aluguel e, de quebra na maioria dos menos perigosos que, como urubus na carniça, praticavam pequenos furtos na periferia da Redenção. Aldo é, sem dúvida, o assunto mais freqüente nas mesas de bar, nos bancos da praça, etc. Resumindo: Poucas pessoas seriam capazes de desafiar o mais novo xerife dessas redondezas. Um homem alinhado e de fisionomia serena que nem de longe deixa transparecer o peso da crueldade que é capaz de investir contra o inimigo.
Antes de decidir se me juntaria ou não ao comboio, decidi colher mais informações. Por telefone, um policial civil me informa que essa seja talvez a mais importante missão para Aldo de castro desde que assumiu a delegacia de Redenção. Efetuar a prisão dos bandidos mais perigosos e temidos em toda a região Sul do Estado: Os irmãos Adriano Salomão e Jânio. Acusados de vários homicídios, formação de quadrilha e exploração do trabalho escravo. Adriano Salomão, o “Cabeça” do grupo, colocou a reputação do nosso xerife em xeque ao tornar público um desafio, no mínimo, desaforado. Em uma entrevista concedida por Adriano Salomão a NBTV (Afiliada da Rede Globo, no Sul do Pará). Uma reportagem produzida com fortes pitadas de sensacionalismo. O bandido escondido no meio da selva relata o seu poderio e a determinação de continuar aterrorizando a vida dos colonos e, no recado ao delegado durão, Adriano afirma estar pronto para o conflito armado. Nesse caso, o silêncio da polícia poderia soar como um ato de covardia E, isso, naturalmente, seria um desastre. Como era de se esperar, Aldo de Castro, topou o confronto.
Na viatura que abre caminho para o restante do comboio está o nosso "Robocop tupiniquim". A primeira parada da viagem é no povoado conhecido como “Casa de Tábua”, até então, algumas casinhas espalhadas em duas ou três ruas. A contar pelo número de bares, acredita-se que, pelo menos, uma vez pôr mês, um grande número de pessoas passa por aqui. Os olhares são desconfiados, de pessoas que farejam o perigo ou que têm algo a temer. Homens de fisionomia pesada: maltratados pela ação do tempo que, mais cedo ou mais tarde, cobra do nosso corpo os abusos da exposição, mesmo que forçada, a uma vida desregrada. Eles vêm de várias regiões do País na expectativa de uma vida melhor em um menor espaço de tempo. Num suposto “Eldorado” é comum esbarrar com foragidos que aproveitam a ausência da polícia para levar uma vida “normal”. Mulheres cobertas apenas por toalhas de banho, espreguiçadas em “cadeiras de macarrão” espalhadas pela calçada. São prostitutas que, em meio a uma seqüência de gargalhadas desejam nos passar a idéia de força, segurança e satisfação com a vida que levam por aqui. Mas, não é bem isso que se vê no dia-a-dia. A realidade dessas pobres criaturas sabe-se é, no mínimo, cruel... Recrutadas em regiões de extrema pobreza, elas chegam aqui iludidas com a promessa de dinheiro fácil que, em pouco tempo, seria suficiente para o retorno e uma nova vida na terra natal. Mas, nada disso se concretiza... Em pouco tempo, arrependidas, elas estão dispostas a desistir; mudar de vida. Só que, para isso, vão ter que pagar o que devem para aqueles que as recrutaram... Uma conta que só tende a aumentar.
No destacamento um cabo da Polícia Militar nos recebe com uma cara de quem passou a noite provando à qualidade das bebidas comercializadas no povoado. Como até hoje ainda acontece nas pequenas vilas do Pará, o destacamento é formado por uma média de quatro policiais. Numa região onde os conflitos pela posse da terra são uma constante esse número é desprezível.
Ainda no povoado “Casa de Tábua”, o delegado resolve fazer uma visita ao posto de fiscalização da Receita Estadual. Mas, não se trata de uma visita amigável... Aldo já tem informações de que, até os fiscais da receita colaboram com o bando de Salomão... Através de um rádio amador, eles passam informações sobre a movimentação nos arredores do povoado, principalmente, quando se trata de batida policial. Com isso, os mais de cem quilômetros que nos separam do início da área da Condespar, são suficientes para Salomão, Jânio e seu bando porem em prática um plano de fuga... A chegada do "xerife" não é nada cordial... Sem dizer uma palavra, ele cruza o pequeno salão, invade a área restrita, desconecta os cabos recolhe o equipamento de transmissão e sai em absoluto silêncio...
Nos quase cem quilômetros de estrada “carroçal”, a polícia deflagrou uma intensa busca a integrantes do bando. Nenhum carro cruzou o bloqueio sem ser, minuciosamente revistado. Mesmo sem o auxílio do rádio amador, A notícia correu rápida... À medida que nos aproximávamos rojões iam sendo disparados para alertar os irmãos sobre
A nossa chegada. Mas, isso não significava uma colaboração espontânea. Nesse “campo minado”, Quem se recusava a obedecer às ordens de Salomão corria um sério risco de amanhecer igual a despacho de macumba: Cercado de velas. O temor era tão intenso que, os colonos, além de alcagüetes, serviam, também, como trabalhadores não remunerados - escravos, para ser mais exato – do bando.
O uso dos rojões de alerta foi constatado logo no primeiro barraco em que chegamos. No meio da mata fechada, espremido em uma pequena clareira, um barraco de lona sem nenhuma proteção é o abrigo de um senhor de mais ou menos 65 anos, sozinho e amedrontado com os últimos acontecimentos. Ele afirma que encontrou os irmãos na tarde do dia anterior e que recebeu uma ordem direta de Salomão que, segundo ele, já sabia da vinda dos policiais, Para não abrir o bico sob pena de dura punição e que, não fraquejasse na vigília. Eu observo do lado de fora, a conversa do colono com o delegado imaginando que tipo de vida é esse... Um homem velho e abatido, vivendo em condições subumanas e, como se não bastasse, humilhado por bandidos que, a qualquer momento podem decidir friamente o seu destino... Então, por que permanecer?
Mas, no estado do Pará, infelizmente, a coação e o trabalho escravo ainda são uma constante. Um exemplo é a velha fazenda São Judas Tadeu, no Nordeste do estado, onde centenas de pessoas, no início da década de 90, viviam em regime de escravidão e com a certeza de que só sairiam dali para o cemitério. Mas, como um zumbi dos palmares, um homem destemido conseguiu driblar o rígido esquema de segurança e chegar à delegacia de polícia de Paragominas onde o caso foi denunciado. O fazendeiro foi preso e os trabalhadores libertados com todos os direitos previstos na lei trabalhista. O criminoso, do qual não me recordo o nome, ficou poucos dias preso, mas, como a justiça divina tarda, mas não falha. Alguns dias depois, ele foi encontrado morto dentro da fazenda, onde por vários anos promoveu as mais variadas formas de humilhação e tortura inimagináveis. Quem conheceu as senzalas da são Judas Tadeu garante que as execuções eram uma prática comum e que sempre aconteciam com requintes de crueldade... Em uma das histórias mais conhecidas, comenta-se que o próprio fazendeiro obrigou um grupo de trabalhadores insatisfeitos a subir na mais alta árvore encontrada e, quando todos completaram a escalada, ele, com uma motosserra, cortou a árvore... Ninguém sobreviveu.
Já passa da meia noite e a caçada continua... As dificuldades de acesso nos obrigaram a abandonar os veículos. Até agora, já são quase quatro horas de caminhada na escuridão e no clima úmido e abafado da floresta. A sede é tanta que nos faz esquecer da fome. É preciso manter o silêncio para não chamar a atenção dos camponeses que costumam construir seus barracos à beira da estrada. Mas, para os cães de caça, isso de nada adianta. Num dado momento, me aproximo do delegado para me colocar a par das novidades e fico sabendo de que a conversa com o primeiro colono surtiu efeito. Estamos a caminho do sítio que pertence à mãe de Salomão e Jânio. O delegado acredita que eles podem estar dormindo lá, já que, segundo o colono, a esposa de Jânio foi vista entrando na Condespar no início da manhã de ontem.
A nossa chegada silenciosa é interrompida pela calorosa recepção de, pelo menos, uma dúzia de cachorros. A escuridão é total. Deitados, no meio da estrada, aguardamos a reação de quem está dentro da casa. Pela fresta da janela alguém varre a escuridão com o foco de uma lanterna.
A investida acontece, mas, não foi dessa vez. Um caseiro da família é interrogado. Ele informou ao xerife que o motorista de Adriano Salomão estaria dormindo em um barraco mais à frente e que o próximo passo seria pegá-lo de surpresa e forçá-lo a falar. Dito e feito. O barraco está cercado. Os policiais gritam as ordens:
-Saiam com as mãos para cima... Deitados. - Não foi tão difícil. O suposto motorista foi identificado e, de imediato passou a sofrer uma forte pressão psicológica. Não demorou muito para que ele entregasse o serviço. Adriano Salomão e Jânio (O irmão caçula), passaram o dia bebendo, rodando de barraco em barraco na tentativa de fugir do fator surpresa e, segundo o motorista, a esta hora, devem estar dormindo num sítio que fica logo à frente, há pouco mais de dois quilômetros daqui. A declaração causou uma euforia generalizada. Todos os percalços da viagem já não eram tão importantes. Estávamos a poucos minutos de uma grande vitória: Por as mãos nos homens mais procurados pela polícia do Sul do Pará
Continuamos a caminhada. Passos e respiração acelerados... Nem é preciso pedir silêncio... Todos estamos meio que hipnotizados; um filme de aventura deve estar rodando na cabeça de cada um e, não é difícil imaginar quem é o mocinho em cada uma das histórias. Foram os três quilômetros mais rápidos da minha vida.
Agachados no meio da estrada de terra ouvimos atentamente às últimas coordenadas da missão. Agora são menos de 100 metros até o esconderijo de Salomão e Jânio. Nada pode dar errado. Um grupo sai na frente para cercar o barraco e o outro faz cobertura para evitar a fuga da dupla. A imprensa deve aguardar o desfecho da operação para dar início às filmagens. O silencio total volta a tomar conta do grupo que aguarda o sinal à beira da estrada. Nessa hora, tudo fica muito confuso... Um misto de realidade e ficção, de coragem e medo do pior, de alegria pelo sucesso da busca e tristeza pelo destino desses seres humanos... Mesmo sabendo do que eles são capazes, nesse momento é difícil sentir o ódio que eles talvez mereçam.
Atentos aos mínimos detalhes, mesmo estando na maior escuridão, Aldo de Castro e sua equipe se aproximam lentamente do casebre. Qualquer descuido pode por tudo a perder. Nesse mesmo instante, uma lanterna é acionada dentro do barraco. As armas da polícia, agora, estão com massa e alça de mira alinhadas na direção da porta da frente. Um outro grupo toma posição nos fundos do terreno, mas todos preservam o alto controle... É preciso continuar observando para que nenhuma injustiça seja cometida. A porta se abre devagar e um velho sonolento sai em direção ao pomar do sítio. A polícia percebe que ele de nada suspeita e permanece camuflada. Aldo olha para o policial ao lado e aponta o indicador na direção do velho. O policial entende o recado e, como uma onça nos instantes que antecedem o bote ele sai, agachado e numa rapidez considerável dá o bote e aplica uma gravata no pescoço do homem que admirava as estrelas enquanto urinava. A reação do pobre coitado que nem suspeitava do que se tratava, foi uma seqüência de gritos que varou quilômetros no meio da noite.
O efeito surpresa já estava quebrado... A polícia tratou de cercar o barraco e ordenar a saída dos procurados. Adriano Salomão e Jânio acordaram atordoados com a gritaria que não cessava e, pelas frestas das paredes de barro perceberam o cerco da polícia e, nesse momento compreenderam: A casa caiu. Os irmãos soltaram as armas e foram saindo com as mãos na cabeça e pedindo calma aos policiais. Deitados no chão, humilhados e algemados eles, agora, só queriam sair dali com vida.
Quando percebeu que estava sendo filmado e que a polícia não pretendia partir para o “Esculacho”, Adriano Salomão se mostrou bem à vontade para dar entrevista. Ele afirmou que há muito tempo aguardava a chegada da polícia para por um fim nas acusações que pesavam sobre ele e o irmão caçula. Demonstrando um considerável grau de conhecimento Salomão afirma que confia nas instituições e que em momento algum estava disposto a enfrentar a polícia. A rendição, segundo ele, era só uma questão de tempo e que, só já não havia acontecido por falta de recursos para contratar um bom advogado. Enquanto conversa com nossa equipe, Salomão faz uma pausa para orientar o irmão que, num outro canto, era sabatinado pela polícia. “Janinho reserve-se ao direito de só responder às acusações em juízo.”
Um pouco recuado, o delegado Aldo de Castro comemora com tenente Oliveira o desfecho da questão. Eu me aproximo para fechar a minha reportagem e, antes que eu perguntasse alguma coisa, o “Robocop” adianta-se:
-Emerson, ele fez o desafio e eu aceitei. Estou feliz por ter efetuado a prisão dos bandidos mais procurados no Sul do Estado do Pará, num cenário bastante ameaçador e, o mais importante: Sem efetuar um único disparo.

    Confira o vídeo com a reportagem sobre a prisão dos irmãos Salomão e Jânio.