quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Cmte Emerson Lopes no PR-IOP

Decolagem sob neblina da cabeceira 19, da pista de Parauapebas, no Sudeste do estado do Pará. Mas, ao furar a pequena camada, o que se revela é um voo repleto de belas imagens.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Relações Perigosas na Ilha do Amor

Trilhar o caminho do jornalismo de forma imparcial requer uma constante vigília. No jornalismo investigativo, principalmente, o profissional deve estar sempre atento às diversas armadilhas que se formam ao longo do caminho. São facilidades, acesso incondicional a vantagens – em sua maioria mal intencionadas – que podem ofuscar o real compromisso do repórter com a sociedade.
Meu primeiro grande trabalho em televisão aconteceu no início da década de 90, na capital do estado do Maranhão, São Luís. Que bela cidade litorânea... Agregadas às belezas naturais deste paraíso a céu aberto, os franceses conseguiram idealizar um dos mais belos projetos arquitetônicos já vistos no mundo. Milhares de edificações em estilo colonial da América Latina dos séculos XVIII e XIX. Tudo isso, hoje, é patrimônio da humanidade. Um presente dos deuses para uma gente humilde, que acolhe os forasteiros, sempre, com um sorriso no rosto e muita festa. Saudades do projeto “Reviver”, com suas ruas pavimentadas com pedras de cantaria e seus milhares de azulejos portugueses, distribuídos em dezenas de casarões. A bela voz de “Papete” dando um tom suave às noites de julho. O minúsculo e, ao mesmo tempo, grandioso “Boi Barrica”, sempre rodeado por belas mulheres que, como sereias, roubam as atenções de milhares de turistas.
Eu era o mais novo contratado do Sistema Difusora de Comunicação, comandado por Edson Lobão Filho, primogênito do então Governador Edson Lobão. Nesse período, o jornalismo policial vivia sua melhor fase. As narrações frenéticas, antes só aplicadas ao rádio com apresentadores como Gil Gomes, Afanásio Jazzadi, agora ganhavam novo formato com programas como “Aqui - Agora, “Cidade Alerta” e uma infinidade de menos conhecidos espalhados pelo interior do País que, davam ao telespectador a oportunidade de vivenciar situações inusitadas (perseguições, aventuras, manifestações), com uma riqueza de detalhes que só esse novo formato era capaz de proporcionar. Com isso, o repórter – apenas testemunha do ocorrido-agora era parte integrante da ação. O reconhecimento pela coragem, pelo desprendimento e pelo poder de decisão, veio em forma de status de celebridade (autógrafos, convites, presentes, etc.). E, foi justamente esse diferencial que provocou, em muitos setores, a necessidade de se formar alianças sólidas com a imprensa. E, foi dentro desse jogo de interesses que se deu mais uma história em minha vida.
O Governador Edson Lobão, concretizando mais um compromisso de campanha criou a Delegacia Metropolitana. Uma especializada que reunia o que existia de melhor na área de segurança pública para o combate a crimes mais complexos, como: Homicídio, tráfico de drogas, seqüestros, etc. Cinco delegados cinqüenta policiais e, os mais modernos equipamentos. Para o comando da metropolitana, Lobão escolheu uma lenda viva... O temido delegado especial Luiz Moura. Mais de trinta anos de atividade policial e um currículo invejável. Não se ouvia falar de um caso que, ao passar pelas mãos de Luiz Moura continuasse em aberto. Entre os mais conhecidos está o do assaltante e estuprador Valney que, por meses a fio, desafiou a polícia da capital espalhando um clima de terror, principalmente entre as mulheres. O bandido era exigente. O crime preferido era o estupro e, sempre contra mulheres da alta sociedade maranhense. A pedido do próprio Governador, Luiz Moura assumiu o caso e deflagrou uma verdadeira caçada ao assaltante garanhão. Em poucos dias, Valney, amargava o chão frio de uma sombria cela da metropolitana.
A prisão de Valney, como era de se esperar, rendeu inflamados elogios ao bom desempenho profissional de Luiz Moura e equipe. Mas, quem teve a esposa vítima do tarado, é claro, preferiu permanecer no anonimato. Por outro lado, Valney falava pelos cotovelos em entrevistas a vários canais de televisão e periódicos, ele relatava, com riqueza de detalhes, os casos mais importantes e, empolgado com a fama meteórica, Valney afirmava que, tão logo conseguisse se livrar das grades faria tudo outra vez. Esse foi seu último erro.
Na manhã do sexto dia do estuprador atrás das grades, um grande movimento nos corredores da delegacia, denunciava que alguma coisa fora do comum estava para acontecer. Policiais exibindo armas de grosso calibre andavam de um lado para o outro e, o telefone não parava de tocar. Do lado de fora, uma viatura descaracterizada, com as portas abertas e o motor em funcionamento. Mas, a missão da equipe, logo ficou evidente. Valney, algemado apareceu no corredor e foi escoltado até a viatura. Parecia nervoso. Como se não compreendesse o motivo da transferência repentina, Já que, na maioria das vezes, o preso que entrava na metropolitana só era transferido após a condenação. Realmente a situação era muito estranha. Algemado ao gigante da caminhonete, Valney já não esboçava o ar de ironia do dia em que foi capturado. A viatura sai queimando pneus rumo à CEREC (Central de Recolhimento do Estado). Alguns minutos depois a notícia que, convenhamos, já era esperada. Valney, o tarado debochado está morto. Ele foi alvejado duas vezes: Um tiro no rosto e outro a altura do coração, na Avenida São Luis Rei de França.
Mesmo se tratando de um bandido que se dizia irrecuperável, nada justificaria a execução sumaria. Com esse argumento, o pátio da metropolitana ficou lotado de repórteres, cinegrafistas... Toda a imprensa da capital queria saber o porquê de uma ação tão radical. Alguns minutos depois, o delegado Luiz Moura, resolve esclarecer o fato. E, Com uma calma irritante ele desabafa:
- “Valney estava sendo transferido por questões de segurança. Mas, no meio do caminho ele investiu contra um de nossos policiais tentando tomar-lhe a arma. Para evitar que o pior acontecesse, o policial disparou contra o bandido... O que você faria se estivesse no lugar dele?...”. Fechou o assunto
O silêncio foi total, diante de tal justificativa. Era impossível imaginar que um homem algemado ao gigante de uma caminhonete pudesse representar uma ameaça para os oito policiais destacados para a missão. E qual a necessidade de dois disparos?...Afinal, quem se importaria com o que é certo para defender um homem que fazia questão de ser o “joio do trigo”.




O Primeiro Contato


O trânsito começa a ficar complicado. Já passa das sete da noite e, por aqui, ainda é hora do “rush”. O vai-e-vem interminável, o nervosismo descarregado em infinitas buzinadas... Milhares ou milhões de luzes coloridas enfeitam as avenidas, cuidadosamente decoradas para o natal que se aproxima. Na metropolitana, pelo menos por alguns minutos, nada de ocorrências, nada de correria, nada de “giroflex”... O momento é de confraternização. Todos estão aqui. Uma cena rara. Os mais bem preparados policiais do estado, reunidos em uma sala. É a minha primeira reportagem nessa especializada e, não vejo a hora de conhecer Luiz Moura.
No final do corredor uma porta se abre. Um Silêncio sinistro toma conta do local. Foi o que imaginei... Aquela é a sala do chefe. De repente, um senhor de cabelos grisalhos, mais ou menos um metro e sessenta de altura, bem acima do peso, óculos “fundos de garrafa” e com um ar de tranqüilidade, caminha a passos lentos a caminho do salão principal. É difícil de acreditar que esse senhor com cara de pastor evangélico seja o temido Luiz Moura... Mas, é verdade. Ele vem acompanhado da esposa, a também policial Ilse Gabina, que, segundo as más línguas é a mentora de todas as missões importantes do marido.
Luiz Moura dispensava atenção especial aos profissionais de imprensa. Enquanto outros delegados ignoravam ou dificultavam o acesso de jornalistas a detalhes de casos importantes, Luiz Moura abria caminho com facilitação de acesso aos presos, convencimento da importância do direito de defesa e até informações privilegiadas de missões em andamento. Para os jornalistas agraciados – quase sempre os melhores - as concessões rendiam boas reportagens e, conseqüentemente, mais destaque para ambas as partes. Durante a cerimônia tivemos alguns minutos de conversa informal. O suficiente para garantir que, dali em diante, eu receberia tratamento especial assim como os “dinossauros” da imprensa maranhense. Eu ainda não sabia, mas, naquele momento tinha início uma relação de amor e ódio. Mas, vamos primeiro á lua de mel.
A cada reportagem bem sucedida, um novo convite: um jantar no sítio da família, final de semana na praia da raposa, onde, diga-se de passagem, Luís Moura era tratado como um “padrinho” pelos pescadores mais antigos. Com direito até a beijo na mão. A fama era algo do qual o velho "xerife" não abria mão. Nos famosos jantares na casa do casal Moura não era novidade ver acusados de crimes graves circulando pelos corredores e recebendo tratamento dispensado apenas a bons amigos. Alguns eu, inclusive, já havia entrevistado na cadeia. Como é o caso de Rogério, um bandido conhecido que, há pouco tempo, foi preso por Estênio Mendonça acusado de participação na morte do ex-prefeito de Poção de Pedras Raimundo Mota da Silva.
O tempo foi passando e eis que, na tarde de certo dia, eu percebi que a lua de mel com o casal Moura estava perto do fim.
Acho que Uma das virtudes que eu herdei da vida na “caserna” foi: A pontualidade. Chegar atrasado, principalmente no trabalho era o fim da picada. Meu maior medo sempre foi perder um furo de reportagem por não estar no lugar certo na hora certa. E, hoje, é justamente isso que está acontecendo. Na recepção, como sempre lotada, sequer me atrevo a olhar para os lados para não correr o risco de me atrasar ainda mais. Entro ofegante na redação e já dou de cara com Francília Cutrin. Uma pauteira frenética que cobria a área policial e, diga-se de passagem, com bastante eficiência. Ela era do tipo que sabia se impor na busca por informações. Delegados, Prefeitos, Deputados... Qualquer um que “pisasse na bola” estaria prestes a conhecer Francília: O vendaval.
Eu mal consegui dizer boa tarde...
- “Emerson, estava mesmo te procurando. Você não vai acreditar!... Se isso for verdade nos vamos dar o furo do ano. Uma mulher me ligou da cidade operária acusando os irmãos Luizinho e Lennon Moura de seqüestro do marido dela, um comerciante que, ao que tudo indica, também, estava envolvido com tráfico de drogas. Como eu sei que você é muito amigo do xerife preparei essa prova de fogo pra você.
Devo admitir que, no momento em que francília me passava a pauta, meu coração chegou a pular no pescoço. Mas, para um jovem de vinte e poucos anos, acostumado a ver a morte de frente quase todos os dias, uma olhadinha a mais não faria muita diferença. É certo que, aquela situação não me agradava nem um pouco. Afinal de contas eu já era considerado um afilhado do xerife, um protegido... Mas, o meu dever como profissional estava acima desses valores. Sendo assim...
A pequena mercearia do casal Frazão, hoje está mais freqüentada que o normal. Dezenas de curiosos se espremem do lado de fora para conferir os estragos provocados pelos irmãos “Moura”. A nossa chegada causa ainda mais aglomeração – era sempre assim nos bairros da periferia da capital -. Ana de Fátima Araújo Frazão, esposa da vítima, nos recebe aos prantos despejando inúmeras acusações, principalmente contra o Ex-Sargento PM Lennon Moura, o mais temido dos filhos do delegado. Dentro da mercearia, marcas de sangue, garrafas quebradas, e buracos na parede, provocados pelos vários disparos efetuados pelos acusados. Antonio Santos, o cinegrafista, não deixa escapar um só detalhe. Tomei os depoimentos, conversei com o delegado responsável pela investigação, construí o texto no caminho de volta para a televisão, para garantir que seriamos os primeiros a denunciar os abusos dos filhos do delegado. A matéria abriu o jornal da noite com uma chamada de peso interpretada pelo apresentador Lázaro Azevedo, o nosso Boris Casoi tupiniquim:
- “Filhos do delegado especial Luis Moura agem como bandidos e seqüestram comerciante na Cidade Operária”.
A reportagem desencadeou uma busca incansável ao comerciante desaparecido. Luis Moura começava a conhecer o outro lado da moeda. Os filhos acusados de seqüestro, possivelmente seguido de morte e ele, de proteger os acusados que a essa altura já estavam foragidos. O inquérito aberto na delegacia da cidade operária teve como primeiro responsável o delegado Sebastião Cabral, um velho amigo de Luiz Moura. Mas, por pouco tempo. O próprio Secretário de Segurança Pública do Estado Coronel Guilherme Ventura, designou o linha dura Estênio Mendonça para o comando das investigações. A perseverança de Estênio era tão grande que já soava como perseguição. Mas, ele não se deu por vencido e, Alguns dias após o seqüestro, finalmente, o caso Frazão tem o seu desfecho.
Lennon e Luizinho levaram Antonio Lisboa Aires Frazão para o sítio da família, nos arredores da capital, para um possível acerto de contas. Luiz Moura e Ilse Gabina, presenciaram toda a discussão. Lennon, embriagado e bastante nervoso, saca um revólver e ameaça matar o comerciante que implora ao delegado para que não o deixe morrer. Mas, Lennon Moura ordena ao pai que se afaste. Feito isso, ele não perdoa e desfere vários disparos contra Antonio Frazão. O pior acontecera: Frazão está morto.
Diante do inevitável os acusados se preparam para mais um crime: Ocultação de cadáver. A alternativa mais confiável estava no sítio ao lado. Paulinho, caseiro do sítio do delegado leva o corpo nas costas e o joga em um poço com cerca de sete metros de profundidade. O restante da noite eles passam jogando terra no buraco até eliminar qualquer possibilidade de suspeita. Mas, foi o próprio caseiro que, acuado por Estênio Mendonça decidiu abrir o jogo.
Os irmãos Moura, com prisões preventivas decretadas, agora, estavam foragidos. Toda a pressão recaia contra o delegado e a mulher dele. A prisão deles, também era questão de tempo. O xerife estava acuado abatido e humilhado. O próximo grande golpe seria a sua exoneração do cargo de chefe da metropolitana.
Os “amigos” - sempre disponíveis e atenciosos - agora, estavam ocupados demais até para uma rápida visita. Os políticos que sempre faziam uso de seus “favores especiais” lhe viraram as costas, preferindo ignorar os acontecimentos. O jeito é esperar o desenrolar dos fatos.
Dias depois, Luis Moura e Ilse Gabina, são comunicados por um informante – um dos poucos ainda fiéis – da decretação de preventiva. Mas, o casal não espera o comunicado oficial e foge no meio da noite. O homem da lei, agora, é procurado como bandido.
Apesar de ter sido o primeiro comunicador a levantar a questão eu continuei visitando o delegado e, até lhe deixando a par das novidades. Luis Moura nunca pediu para que eu o acobertasse ou escondesse detalhes dos acontecimentos. Ele era um homem experiente e sabia que na euforia da minha juventude e com um senso de responsabilidade bastante elevado eu jamais aceitaria. Uma proposta nesse nível poderia provocar a minha retirada do centro do furacão e isso não seria muito bom para ele nesse momento. Os meus colegas na redação não entendiam como eu permanecia ao lado de um homem que eu, há poucos dias, ajudara a destruir. Mas, para mim, o importante era que ele sabia que eu não o trai... Simplesmente não usei a minha profissão para acobertar um crime.
A lealdade é uma virtude de poucos. Mas, quem a pratica sabe o quanto vale a pena acreditar nesse conceito. O período em que Luis Moura e Ilse Gabina estiveram escondidos eu sempre consegui localiza-los. Bastava um simples telefonema. Lembro-me que, certo dia, ao chegar à emissora, Coelho Neto, então diretor de Jornalismo, me chamou em particular e perguntou se eu conseguiria uma exclusiva com o casal para o “Bom dia Maranhão”. Balancei a cabeça afirmativamente e, conclui: Desde que você me forneça as condições necessárias, pode contar com isso. Mas, já vou adiantando que a entrevista vai ser gravada. afinal de contas, eles estão foragidos.
Depois de tudo acertado, comecei, então, a traçar as estratégias. Após alguns telefonemas, descobri que o casal estava escondido na casa do advogado Jamenes Calado que já se preparava para uma apresentação espontânea de seus clientes. Foi no escritório de Jamenes, que a entrevista aconteceu. No dia seguinte, no “Bom Dia Maranhão”, a entrevista vai ao ar como se fosse ao vivo. Em poucos minutos o pátio da emissora está lotado de policiais confiantes no desfecho do caso. Quando o delegado Estênio Mendonça soube dos detalhes... O homem quase perdeu a linha. Ao me encontrar nos corredores já foi logo disparando:
- Ocultar informações que possam levar a prisão de um acusado é crime!... E eu, na qualidade de delegado responsável pelo caso posso decretar a sua prisão, imediatamente. A não ser que, o senhor resolva nos levar até o esconderijo – disse ele, com um toque de ironia.
- Bem que eu gostaria doutor. Mas, como o senhor bem sabe, na minha profissão também existe sigilo e, mesmo que eu soubesse como lhe ajudar, não o faria. Portanto, espero que o senhor entenda que, se eu consegui uma exclusiva com Luis Moura é porque ele planejou tudo. Sendo assim, quem garante que ele vai estar no mesmo lugar esperando ser denunciado?
Sem mais uma palavra, Estênio deu meia volta e foi embora. Mais um ponto a favor para a liberdade de expressão.
Mas, a agonia do frenético Estênio estava com as horas contadas e, eu, mais uma vez, sabia disso. É que durante a entrevista, Luiz Moura garantiu que eu seria o primeiro, a saber, do momento exato de sua apresentação às autoridades. E, naquele mesmo dia, no meio da tarde, o telefone toca na redação. Esperei que alguém atendesse mais ninguém apareceu.,
- -“TV Difusora, jornalismo, boa tarde...”
- -“Emerson, o desfecho acontece às sete horas da noite de hoje, no primeiro distrito policial. Não vá se atrasar!... – dado o recado o informante tratou de bater o telefone.
Eu sabia muito bem quem estava do outro lado. A voz rouca e ameaçadora era a de Ilse Gabina, mulher de Luis Moura. Mais uma vez ficou claro que ela era a articuladora das ações do casal.
Depois do telefonema fiquei um certo tempo num verdadeiro estado de inércia, imaginando como agir para que ninguém desconfiasse do que estava por vir. No momento em que eu pedisse uma equipe para uma reportagem em horário extraordinário e, sem muitos detalhes, ficaria claro que algo muito importante iria acontecer. Mas, havia alguém em quem eu podia confiar, pois compartilhava do mesmo interesse que eu pelo assunto em questão – O furo de reportagem -: Coelho Neto, diretor de jornalismo.
No horário marcado, lá estava eu, sozinho me deliciando com o privilégio de poder registrar, em primeira mão, o desfecho do caso mais importante do momento. De repente, um carro apressado surge na esquina em direção ao primeiro distrito. Antonio Santos, de prontidão, já está pronto para captar cada detalhe. Na mosca!... São eles. Luis Moura, desse primeiro... Ilse Gabina vem logo em seguida, acompanhada de Jamenes Callado, considerado o melhor advogado criminalista de todo o estado. Mas, nesse momento isso de pouco adianta. Ele sabe que seus clientes vão ficar presos e, nada, nada mesmo, pode mudar essa realidade.
Findadas as formalidades o casal vai conhecer a nova morada – uma sala previamente preparada no primeiro andar do primeiro distrito para abrigar os novos hospedes – nada parecida com as úmidas celas tradicionais. Nada de grades, nada de mau cheiro, etc... Os detentos de luxo têm direito a uma ante-sala para receber as visitas a qualquer hora, uma cama de casal, uma televisão, um frigobar e, acredite: dois revolveres calibre 38 embaixo do colchão. Eu sei disso, porque daquele dia em diante passei a fazer visitas constantes aos meus “amigos” presidiários. Como se não bastasse tanta regalia, o casal sempre tinha por perto um bom “Twelve Years” para oferecer aos seus ilustres convidados. Não foram poucas as vezes que, devido ao papo prolongado, deixei aquela sala bastante “animado”.
Já os filhos de Luis Moura – é preciso deixar claro que Luizinho e Lennon não são filhos de Ilse Gabina – amargavam uma cela comum no segundo distrito policial, no João Paulo. Por muito pouco, Luizinho não conseguiu o direito a uma cela especial. Antes do crime, ele cursava o último ano de direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Por algumas vezes, até mesmo a pedido do casal, eu estive conversando com os dois. Luizinho bem mais polido lamentava com certa serenidade os últimos acontecimentos e estava sempre disposto a dialogar. Já Lennon Moura, preferia um cantinho isolado. De preferência um canto escuro onde pudesse esconder todo o ódio acumulado em função dos rumos tortuosos a que a vida o levara.
Do lado de fora, uma simples dona de casa ganhou notoriedade com o caso na luta incansável por justiça. Fátima Frazão conseguiu o apoio de diversos seguimentos organizados na luta pelos direitos humanos e, já não defendia só a sua causa, mas, usava os holofotes em prol de outras vítimas da impunidade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Enquanto isso, numa ilha distante...


O Governador do Amapá, Pedro Paulo Dias do (PP), depois de míseros nove dias na cadeia, reassume o poder. após carreata pelas ruas da capital Macapá, e, em entrevista coletiva chora, soluça, olha para o teto do palácio e pergunta lamuriante: Meu Deus!... Pra que tudo isso?! ( Se eu só precisava da metade, pensou...).

Como diria meu amigo baiano: "Que P... é essa!..."

...Viva o Rei

Eu me rendo!...Que as mãos do carrasco desçam Ligeiras e contundentes sobre esse pescoço cansado de movimentos de humilhação. Quero minha cabeça confusa separada desse corpo protuberante, cheio de marcas nas dobradiças das pernas. Quero minha alma vagando pelo desconhecido, purgando pecados que, nesse último suspiro continuo a cometer.

Morrer a essa altura é um prêmio para um ímpio, malicioso e irresponsável como eu que, do alto de sua intransigência, ousou duvidar do censo de luta e sobrevivência do povo deste País.
Aquela, a quem não me permito dizer o santo nome, está no alto, no alto das pesquisas. Comprovando a minha incompetência como analista político. E olha que eu estava piamente convencido de que, nem de longe, ela chegaria lá. Que burrice a minha, achar que Mensalão, Zé Dirceu, Lulinha, etc. Seriam suficientes para minar a gloriosa marcha da turma do bolsa esmola. Num País repleto de famintos, isso é pinto.
Quem disse que no Brasil não se pode comprar votos?... Parcelados em até oito anos.
“Êta, mundão veio sem porrrteira!!!”. Mas, em compensação... Curral é o que não falta.