segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mundo Real

 Entre o sono profundo e a consciência total existe um mezanino onde se concentram forças que até pouco tempo eu, também, desconhecia. Um plano tão real quanto o abrupto despertar ao estardalhaço de um alarme. Tão mágico quanto o sorriso de uma criança e tão sereno e profundo quanto um por do sol a beira-mar. Mas, a chegada e a saída são traumáticas, desgastantes e até certo ponto apavorantes.

São quase quatro da manhã de sexta-feira, 17 de julho de 2009. No norte do Brasil, onde só temos duas estações no ano, o inverno já se foi e as madrugadas de verão são ventiladas e de céu claro. Estou de volta à minha casa; ao meu quarto; ao meu corpo; tomado por um sentimento confuso que serpenteia entre a alegria pelo que acabei de vivenciar e a tristeza por tudo que ouvi. Você, provavelmente, ainda não viveu o que passo a relatar.
A última vez em que olhei, o relógio marcava uma e quarenta e cinco da manhã. Um pouco mais do que costumo suportar num dia de semana. Perdi a noção do tempo em frente ao computador escrevendo um artigo sobre o “balaio de gato” que se tornou o poder legislativo nesse País. Gosto de escrever no silêncio da noite, mas, temas como o que acabara de imprimir me roubam alta quantidade de energia; Eu sabia que em poucos minutos estaria mergulhado em mais um sonho escolhido à revelia. Às vezes acontece de um sonho bater com aquilo em que pensamos o dia todo, mas, normalmente, é um tiro no escuro.
Já Debaixo das cobertas o frio dá lugar ao aconchego; segurança... É o descarregar das tensões; do sofrimento dessa vida inconsciente; desse plano sem sentido, dessa luta sem motivo; da busca por uma vitória que não completa, que não se justifica... Que não chega... Os travesseiros vão se moldando ao estranho formato do corpo que se contorce até encontrar o relaxamento total e ideal. (Não posso esquecer-me de falar sobre os gatos).
Passados poucos minutos, sinto que já não estou nesse plano, O adormecer é inevitável.
O sono tranqüilo durou pouco até que a rotina, mais uma vez, fosse quebrada. Difícil precisar o momento, mas, o que aconteceu ainda está muito claro. É como se estivesse voltando do sono e parasse no meio do caminho; A lucidez se fez num impacto. Nesse instante percebo, em mim, um elevado grau de consciência. Mas, antes do despertar daquele estado intermediário, uma dormência fervilhante rouba-me as forças e, é justamente aí que se dá o medo; o pavor do desconhecido. Sinto a vida se esvaindo... Impossível me mexer... Estou morrendo?... Não sinto dor.
Já não sou mais tão corpulento, pesado e lerdo. Os olhos ainda estão fechados, mas posso sentir que estou em movimento vertical e ascendente. O medo continua. Uma criança apavorada no escuro, projetada e flutuando a uns trinta centímetros de sua carcaça.
Ao abrir os olhos (da mente), ainda em movimento, vejo-me dando a volta no quarto rente ao forro de madeira aparelhada. Os detalhes não deixam dúvidas: estou em casa, no meu quarto. As imagens, ainda com poucas cores, lembram o cenário de um sonho... Em um dos cantos do quarto estaciono e, ao olhar para baixo, vejo meu corpo. Confiro os detalhes da cena, perplexo. Que coisa estranha. Sou eu mesmo ali, deitado, respirando... Meu relógio; o celular; Tudo exatamente como eu deixei no criado mudo.
A essa altura já havia decidido deixar acontecer. O medo deu lugar à curiosidade.
A contemplação daquele cenário é rápida. Alheio ao meu controle e vontade, Estou novamente em movimento. Ao romper o telhado a velocidade aumenta. Como que num túnel imaginário vou rasgando a noite numa rapidez extraordinária, difícil de precisar. Nas paredes laterais- também imaginárias- imagens distorcidas se formam em câmera lenta. Algo parecido com o que já vimos em algum filme de terror. Mas, algumas figuras vão se revelando conhecidas. Pessoas que ainda vivem, outras que há muito se foram. Que lugar é esse? Como isso é possível?... Os pensamentos fluem; as avaliações são meteóricas: as dúvidas minimizadas. Onde está o tempo? As frustrações? As mágoas?...
A referência já não existe na imensidão... Seria a hora de voltar? Creio que não.
Por alguns segundos perco o foco. Quando a cortina de névoa se desfaz me vejo entrando num salão gigantesco Com paredes metálicas, divididas na horizontal por uma faixa de vidro transparente, um observatório amplo creio eu. No centro do salão, cadeiras flutuantes formam um círculo. Lembro ter lido alguma coisa sobre objetos que flutuam por intermédio de um campo magnético gerado através de um eletroímã. Mas, é que ali, naquele cenário essa novidade me parece um tanto quanto ultrapassada.
-Estou sonhando?-pergunto.
-Não... Definitivamente isto não é um sonho – Uma voz suave e serena surge do outro lado do salão.
-Abdução?...- Um leve sorriso se faz perceber na face serena daquele ser.
-A experiência que estás vivenciando é mais comum do que parece, apesar do elevado grau de concentração que conseguistes alcançar em tão pouco tempo. Você foi arrebatado do corpo físico e está numa dimensão intermediária. Nesse processo, que os encarnados chamam de viagem astral, você poderia estar em algum lugar da terra nesse momento, testemunhando um acontecimento que, mais tarde, saberia ter se dado, quem sabe, a milhares de quilômetros de onde você estava naquele momento. Mas nesse caso específico, trata-se de uma exoprojeção ou viagem fora do planeta pra ser mais exato. Um estágio mais elevado da experiência fora do corpo que possibilita a um encarnado com grande sensibilidade, como você, a chance desbravar o universo; de desvendar os mistérios da existência; de repaginar o tempo... Entender essa condição é privilégio de poucos. É um risco em potencial à vida em sociedade na terra.
Sobre esse mecanismo de canalização de energia as teorias se multiplicam, até com alguma base científica, mas, a ciência do homem aqui, de nada serve. Mas não o trouxe até aqui para falar da cosmogonia do nosso segmento e sim do que os estudiosos na terra chamam de psicossoma - O nosso corpo astral - Que agrega um conjunto de valores que se resume no que realmente somos: Energia magistral e indestrutível.

Mas isso é assunto para logo mais.